Fig. 1 K.S.
Fig. 1 Ilustraçăo K.S.

Quais imagens lhe vêm à mente quando você lê ou ouve os termos sem-teto e pessoas em situação de rua? Ao fazermos associações visuais, nós humanos recorremos espontaneamente ao conhecimento anteriormente aprendido através do olhar. (Schürmann 2008). Embora este conhecimento varie de acordo com parâmetros individuais, nosso imaginário é moldado por documentários, reportagens, séries de fotos, filmes e cartazes de organizações. Isso também ocorre com as nossas representações visuais sobre a população em situação de rua, tema que será abordado neste artigo. Com ilustrações, gravuras, xilogravuras e, especialmente, com fotografias, desenvolveu-se ao longo dos séculos um repertório de representações socialmente aceitas de pessoas em situação de rua, repertório reproduzido repetidamente em diferentes variações e, portanto, constantemente atualizado (cf. Goldfischer 2018; Schmidt 2015; Lancione 2014; Korff 1997). Até hoje, tais representações visuais transmitem, na maioria das vezes implícita e explicitamente, mensagens estereotipadas e depreciativas sobre a população em situação de rua e o seu cotidiano. Por este motivo, tais imagens não serão reproduzidas aqui. Ao contrário, o objetivo deste texto é aumentar a consciência acerca do fato de que a maneira como vemos e imaginamos essas pessoas está embutida em um regime visual dominante que reproduz e estabiliza as relações desiguais de poder social.

Assim, as páginas seguintes têm a intenção de desconstruir o olhar que desenvolvemos sobre as pessoas em situação de rua e questionar as expectativas visuais moldadas pelo regime visual dominante. Para esse fim, o artigo apresenta o trabalho fotográfico e comentários de doze pessoas em situações de rua. Esse material é parte do projeto de tese Ordinary Homeless Cities? Geografias das pessoas em situação de rua do Rio de Janeiro e Hamburgo (Schmidt 2018), ocorrido entre 2012 e 2013. De uma perspectiva global-urbana sobre Hamburgo e o Rio de Janeiro, este trabalho não fará uma comparação da realidade da população em situação de rua nessas duas cidades, mas desafiará o mecanismo global de “urban othering”, que posiciona esses indivíduos como “outros urbanos” em uma realidade citadina supostamente “diferente”. Ao focar nos diferentes contextos de Hamburgo e do Rio de Janeiro, fica claro que, além de categorias dicotômicas como cidades do Norte e do Sul Global, pessoas em situação de rua devem ser entendidas como parte das relações urbanas das cidades em todo o mundo (ibidem).

No âmbito da pesquisa etnográfica descrita acima, realizada em cooperação com instituições voltadas para ajuda à população em situação de rua em Hamburgo e no Rio de Janeiro, foram distribuídas câmeras fotográficas descartáveis a seis pessoas em situação de rua de cada uma das duas cidades para que elas tirassem fotos inspiradas no conceito “Meu Hamburgo/Meu Rio”. Em seguida, xs fotógrafxs interpretam e explicam suas fotos em entrevistas. Como resultado desta variante metodológica da “fotografia reflexiva” (Dirksmeier 2013), temos a produção de imagens por pessoas em situação de rua que se referem menos a suas supostas “identidades de situação de rua” e mais a suas visões acerca das relações de poder presentes na vida cotidiana urbana.

As referências entre imagem e texto tecidas na narrativa a seguir baseiam-se, portanto, no material empírico das entrevistas fotográficas. Por outro lado, as reações descritas no texto referem-se aos comentários verbais do público que visualizou as fotos, exibidas em exposições itinerantes em ambas as cidades e em diversas palestras. Assim, um público diverso teve oportunidade de ver as imagens e expressar suas opiniões sobre o material. Todas as referências diretas da pesquisa empírica estão destacadas em itálico e parcialmente parafraseadas.

Partindo de um regime visual dominante acerca das pessoas em situação de rua, é interessante questionar a própria imaginação de quem lê sobre quais imagens deveriam ter sido tiradas levando em consideração o contexto dx fotógrafx.

“Meu Hamburgo/Meu Rio de Janeiro”

Ver cidades sob a perspectiva de pessoas em situação de rua?

Fotografias de P.H./S.G./M.S.V./H.H./M.C./S.S./E.P/J.A./K.S., narradas por K.S.

Fig. 2/3
Fig. 2 “Quando o clima está bom eu gosto de ficar aqui, entro na longa fila da sorveteria. Pego um soverte e me deito na grama. Talvez eu vá lá mais tarde também.” (© P.H., 8.6.2012)
Fig. 3 “Lapa: um lugar histórico. Quem vier ao Rio e não passar na Lapa, não esteve no Rio. Este edifício é tradição. Tem mais de 200 anos de idade.” (© S.G., 1.9.2012)

Tanto Hamburgo quanto o Rio de Janeiro são cidades turísticas cujas paisagens são lugares emblemáticos, frequentados e fotografados não apenas por visitantes, mas também por residentes. Isso se aplica à Außenalster, em Hamburgo, bem como aos Arcos da Lapa, no Rio. Para os dois fotógrafos aqui, estes lugares também representam áreas recreativas, onde eles gostam de ficar e desfrutar os arredores, a vista de um edifício histórico (S.G.), ou um sorvete nas margens do lago (P.H.) (cf. Fig. 2 e 3).

As duas fotos e as atividades descritas não são especiais em si, pois se referem a práticas e perspectivas normalmente adotadas por muitas pessoas no dia a dia. No entanto, como estas foram retiradas e narradas por pessoas em situação de rua, causam estranheza. As reações a estas imagens mostram, repetidamente, que elas causam surpresa em quem as vê. Isso diz respeito, por um lado, à qualidade estética das fotos e, por outro lado, à declaração de conteúdo. Aqui, estereótipos internalizados sobre a população em situação de rua se tornam claros, quando se põe em questão se uma pessoa nesta condição realmente teria a capacidade de tirar esse tipo de fotografia (exemplo da exposição do Rio 2012). Discursos ligados à ideia de defeito, incapacidade, doença, etc. (Mattos/Ferreira 2004) fazem parecer impossível que pessoas em situações de rua possam operar câmeras, ter um senso estético, ou mostrar lugares bonitos. Para muita gente, também parece estranho que uma pessoa em situação de rua desfrute prazerosamente dos espaços públicos, ou seja, que não exista uma separação nítida entre esta população e as pessoas que moram em casas regulares na cidade, podendo até mesmo haver uma semelhança eventual entre elas (como tomar sorvete!) (exemplo da exposição de Hamburgo 2012). As fotos mostram que as pessoas em situação de rua, assim como as demais, fazem parte da vida urbana comum e não vivem em uma realidade diferente. Ao mesmo tempo, é precisamente nesta realidade, permeada por relações de poder, que a população em situação de rua é integrada de forma especial.

Fig. 4/5
Fig. 4 “[…] O monumento representa o verdadeiro Brasil. [...] Os indígenas, os tupí, os guaranis - eles são nosso verdadeiro grupo étnico. Não os portugueses, nós somos colonizados. [...] Foi aqui que ocorreu a minha infância. [...] Costumava ter uma fonte aqui, onde eu tomava um banho. […] O prefeito César Maia retirou essa possibilidade de banho.” (© M.S.V., 13.4.2013)
Fig. 5 “Eu estou quase todos os dias aqui. De ônibus, ou a pé, depende de quanto dinheiro eu tenho no bolso.” (© H.H., 27.5.2012)

Huh, não há nenhum morador de rua nas fotos” (Exposição Hamburgo 2013). Ao contrário da suposição errônea de que as fotografias tiradas por pessoas em situações de rua apenas retratariam outras nestas mesmas condições, as fotos focalizam aspectos importantes da vida cotidiana da população em situação de rua no Rio de Janeiro e em Hamburgo. Espaços públicos como praças e parques, ou infraestruturas públicas como banheiros ou transporte público ganham interpretações clássicas associadas à opressão e à exclusão. Ambas fotografias acima tratam de aspectos importantes da geografia urbana de pessoas em situação de rua – a permanência diária e a movimentação no espaço citadino (Robaina 2018).

Além do momento no qual a fotografia foi tirada, a imagem da Praça Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro, lança um olhar sobre a história recente do local através da entrevista com um homem negro em situação de rua, na qual ele, a partir de sua permanência na praça, dá sua perspectiva sobre as diferentes fases de revitalização e as mudanças nas possibilidades de uso do local (cf. Fig. 4). Ao retratar a representação dos Tupís e Guaranis no pedestal do monumento no meio da praça, o fotógrafo enfatiza a importância da história indígena do Brasil e sua identificação com a mesma, e não com a  história dos colonizadores (M.S.V). Aqui fica claro como a biografia pessoal está entrelaçada com a história colonial (da cidade) e as políticas classistas de revitalização dos espaços urbanos.

Não somente lugares concretos, mas também o deslocamento dentro do espaço público tem um papel importante para diferentes fotógrafxs. Isso mostra como a complexidade da mobilidade urbana está ligada a questões como classe, raça, in/capacidade, gênero ou status (Robaina 2018). Assim, para aqueles que têm acesso a bilhetes reduzidos ou gratuitos através de uma deficiência (P.H.), uma atividade cotidiana, como as viagens de ônibus em Hamburgo, é tanto uma necessidade quanto uma estratégia (por exemplo, como um passatempo) no contexto das pessoas em situação de rua, mesmo que o uso do transporte público também seja constantemente marcado por experiências de discriminação (P.H.). Para pessoas em situação de rua sem acesso a benefícios, por outro lado, o transporte é muitas vezes uma espécie de luxo (H.H.) que determina quais atividades, recursos e serviços estão ao alcance de sua própria mobilidade (cf. Fig. 5).

Embora as imagens, em um primeiro momento, possam parecer instantâneas, há uma reflexão revelando o entrelaçamento interseccional e as dimensões da múltipla discriminação de pessoas em situação de rua dentro da dinâmica urbana, assim como as relações de poder social nos espaços urbanos: ambos os exemplos de fotos ilustram como estas pessoas podem vivenciar a falta de moradia na cidade de diferentes maneiras individuais (por exemplo, como uma pessoa em situação de rua negra ou deficiente) e como estas experiências se entrelaçam com lugares concretos (Praça Tiradentes), e encontros e práticas da cidade (no transporte público). Ao mesmo tempo, porém, essa diferença deve ser sempre entendida no seu contexto, pois está relacionada às relações de poder (como a colonialidade da pobreza no Brasil, ou a neoliberalização das estruturas de assistência social na Alemanha), que desenvolvem um poder específico na respectiva vida cotidiana das cidades.

Fig. 6/7
Fig. 6 “Este é um edifício público [e já foi ocupado várias vezes]. [...] Quem me dera fosse um espaço de moradia para acomodar aqueles que realmente precisam […].” (© M.S.V., 13.4.2013)
Fig. 7 “[…] um segurança do poder nos mandou embora. Eu diria que nós sujamos a imagem do governo. [...] Aquele, ele sempre tem que fazer coisas importantes. Os outros passam e cumprimentam.” (© M.C., 6.7.2012)

Apesar da relação interseccional e da complexidade do tema, a questão da população em situação de rua é frequentemente gerenciada de forma muito unidimensional e sem a perspectiva das pessoas envolvidas. Geralmente especialistas (representantes das autoridades sociais, ou associações eclesiásticas, ajudantes, cientistas ou assistentes sociais) fornecem informações sobre a situação atual da população em situação de rua e seu número estimado, ou sobre a evolução política de temas relacionados na cidade (Rosen/Davis 2019). Mas a própria pessoa em situação de rua dificilmente tem o poder da palavra como cidadã e indivíduo político em uma cidade (com exceção dos jornais de rua). Quando uma pessoa em situação de rua é convidada a falar, geralmente é em conexão com a sua situação pessoal de rua (perguntas como: por que, por quanto tempo, onde). No entanto, muitas das imagens produzidas contêm declarações decididamente críticas sobre as medidas de “gerenciamento da população em situação de rua” (Marquardt 2013), como por exemplo, as políticas de habitação urbana, de austeridade, de cuidado e de controle. Tais declarações críticas estão baseadas em conhecimentos corporificados, estratégicos e legais e revelam, além disso, práticas ilegítimas. As figuras 6 e 7 acima documentam essas políticas, mostram espaços vazios de especulação e contam histórias sobre a luta pela moradia através de ocupações (M.S.V.) no Rio de Janeiro, ou tematizam a arbitrariedade dxs agentes individuais da segurança pública (M.C.) em Hamburgo e arredores.

Fig. 8/9
Fig. 8 “Isto é um forte contraste com a rua. [...] É claro que discuto com os meus companheiros, mas [...] na rua é ainda mais importante ficarmos juntos daqueles que amamos, daqueles nos amam […].” (© S.S., 19.6.2012)
Fig. 9 “Mais de 100 pessoas em situação de rua ficam durante o dia no Campo [Parque]. […] Eu converso com amigos e cochilo um pouco.” (© J.A., 6.10.2012)

Além das dimensões estruturais, estão também as opiniões pessoais, histórias individuais, ou memórias biográficas que são compartilhadas através das fotos. Entre outras coisas, são enfatizados tópicos que se desviam do discurso da escassez, desespero e necessidade de ajuda e, em vez disso, falam sobre amor (Fig. 8 S.S.), amizade (Fig. 9 J.A.), famílias e paixões como velejar e a fotografia (H.H.), ou mesmo filosofam sobre a vida urbana em geral (S.S.). As imagens dissolvem uma suposta contradição entre vida na rua e referências positivas, mostrando que viver em situação de rua não é um elemento de identidade, mas apenas um aspecto parcial da vida e que uma pessoa é muito mais do que a sua situação de moradia.

Fig. 10/11
Fig. 10 e Fig. 11 Vista de árvores em Hamburgo e Rio de Janeiro (© S.S. & E.P.)

Em contraste com a constante suposição de uma suposta “alteridade” da população em situação de rua, as imagens aqui apresentadas devem frustrar as expectativas visuais dominantes sobre ela. Na verdade, as fotos causam uma impressão bastante “normal” e “comum” – qualquer pessoa poderia tê-las feito. Mas é exatamente assim que as imagens mostram que as pessoas em situação de rua não vivem uma “outra” realidade nas cidades, mas são uma parte profundamente entrelaçada das condições urbanas “comuns”, seja em Hamburgo, ou no Rio de Janeiro. Somente quando as imagens são lidas e vistas em termos de sua posicionalidade no contexto das relações de poder social, a normalidade e a habitualidade se tornam questionáveis. Mas, este questionamento e confusão só funcionam se tais imagens e sua interpretação circularem e encontrarem um público interessado nelas. A estrutura de uma tese de doutorado oferece uma oportunidade para isso, assim como a publicação de um ensaio em uma revista científica.

Fig. 12/13
Fig. 12 und Fig. 13 Exposição das fotos no Rio de Janeiro e em Hamburgo (© K.S.)

Para além do ambiente acadêmico, as fotografias têm o potencial de funcionar como zonas de contato (Pratt 1996) em exposições, nas quais as imagens trazem o conhecimento e as perspectivas das pessoas em situação de rua para mais perto dx espectadorx. No sentido de encontros significativos (Valentine 2008), essas zonas de contato podem estimular e fornecer momentos de reflexão para repensar ideias estabelecidas sobre pessoas em situação de rua e possivelmente, até mesmo, para descartar formas habituais de vê-las. Os espaços de exposição intervêm assim na normalidade urbana e criam locais para diversas perspectivas e narrativas da população em situação de rua. Através das fotografias estamos todxs envolvidxs como cidadãos e cidadãs da fotografia em diferentes papéis - como fotógrafxs, fotografadxs ou espectadorxs - em um chamado contrato civil de fotografia (Azoulay 2008). Cada uma dessas funções requer uma abordagem responsável das relações de poder que permeiam cada ato de ver, fotografar e exibir o espaço.

Fig. 14/15
Fig. 14 e Fig. 15 Fotografias reflexivas com câmera descartável (© M.C. & K.S.)

Reverter o papel das pessoas em situação de rua na sua relação com a representação fotográfica mexe com as  relações de poder tanto no que se refere ao contrato civil da fotografia quanto a uma  prática de pesquisa baseada na fotografia. Através do poder da posição de fotógrafx, o método da fotografia reflexiva nos processos de pesquisa cria um espaço para que as pessoas em situação de rua tenham autoridade interpretativa e para que suas perspectivas da cidade sejam levadas em consideração. Da mesma forma, há espaço para “recusa” (Tuck/Yang 2014), entre outras coisas através da decisão de não fotografar (cf. Fig. 15), da apropriação das câmeras para seus próprios propósitos, ou da não-explicação das fotos. No entanto, isso não significa que as relações de poder se dissolvam como resultado. O tratamento concreto das imagens e interpretações produzidas confrontam as práticas de exploração acadêmica, artística e ativista com o desafio de determinar quem pode e é capaz de utilizá-las, e de que maneira e em que contextos essa utilização é possível. Lidar com questões de autoria, confidencialidade, direitos pessoais e de imagem ou de anonimato deve levar à necessidade de renegociar sempre o que é e o que não é aceitável como científico, ético, moral, legal e relacionado ao conteúdo. Isso também se aplica a este ensaio, no qual todos xs participantes aparecem apenas com iniciais anônimas e há apenas uma pessoa que narra, que, no seu papel de poder de autora, reuniu certas imagens e aspectos para participar deste ensaio fotográfico.

Mas você, ao ler, também faz parte deste ensaio sobre o contrato civil da fotografia. A questão não é apenas quais hábitos visuais dominantes estão por trás da visão e da imaginação das pessoas em situação de rua, mas também como nós espectadorxs, enquanto cidadãos e cidadãs da fotografia, nos relacionamos com isso. As fotos tiradas por essas doze pessoas em situação de rua foram surpreendentes ou mais do mesmo para você? As suas ideias foram confirmadas ou refutadas por essas imagens? Em caso afirmativo, por que sim, ou por que não? Será que conseguimos questionar criticamente nossa própria percepção? Podemos dar lugar a pontos de vista não dominantes? E se sim, que consequências isso tem para nossas ações pessoais, ativistas, artísticas, políticas e cotidianas, mas também para práticas de pesquisa ao lidar com imagens?

A versão em alemão do texto também está disponível.

A autora gostaria de agradecer à Renata de Carvalho do Val e Izabel Fontes pela tradução do texto para o português.

Este artigo foi apoiado pelo Instituto de Geografia da Universidade de Hamburgo.

Autorxs

Katharina Schmidt é uma geógrafa humana. Ela se dedica as questões urbanas com o foco em geografias das populações em situação de rua e geografias visuais, perspectivas feministas pós e descoloniais, assim como as relações de poder na produção global de conhecimento.

fgrv007@uni-hamburg.de

Referências

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